Os concursos refletem um serviço público em transformação: a maior concentração de servidores está nos municípios, o ingresso ainda é dominado por homens e, mesmo com contratações acima dos desligamentos, setores estratégicos enfrentam déficits que acendem um alerta.
Apesar das dificuldades, as perspectivas para 2026 são positivas. O Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), já em tramitação no Congresso Nacional, prevê a abertura de 89 mil vagas em concursos federais.
Para entender o que esperar dos próximos anos e como esses desafios e tendências podem impactar candidatos e a Administração Pública, acompanhe a análise completa a seguir.
Índice
O que é o PLOA e qual a sua importância para os concursos públicos?
Elaborado anualmente pelo Poder Executivo, o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) define quanto o governo pretende arrecadar e gastar no ano seguinte, além de indicar onde esses recursos serão aplicados. Entre as diversas áreas contempladas, está a previsão de vagas em concursos públicos.
Sem essa previsão, não há autorização para a abertura de vagas. Por isso, o PLOA se tornou um dos principais documentos observados por concurseiros de todo o país, já que sinaliza as intenções do governo em relação à realização de seleções federais.
O texto, após ser elaborado, segue para o Congresso Nacional, onde passa pela análise do Senado Federal e da Câmara dos Deputados. Durante a tramitação, pode receber alterações antes de chegar à votação em Plenário e, posteriormente, à sanção presidencial. Uma vez aprovado, transforma-se na Lei Orçamentária Anual (LOA). De acordo com a Constituição, o Poder Legislativo deve concluir a votação da LOA e encaminhá-la à sanção do presidente da República até 22 de dezembro.
Em 2025, porém, o cenário foi peculiar. A LOA só foi aprovada em maio, o que travou a autorização de concursos federais por vários meses. Candidatos de todo o país, que aguardavam novos editais desde o início do ano, tiveram que lidar com a indefinição e reorganizar seus planejamentos de estudo.
Com a LOA em vigor, os órgãos federais têm até 31 de maio para encaminhar seus pedidos de concursos ao Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI). É nessa etapa que se decide, na prática, quais vagas previstas no orçamento realmente serão autorizadas.
PLOA 2026 prevê 89 mil vagas em concursos
O Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2026 foi apresentado no dia 29 de agosto e prevê 89.058 vagas em concursos federais, sendo 41.187 para criação e 47.871 para provimento em novos concursos ou já realizados.
O maior número de vagas é para o Poder Executivo Federal. Apenas para nomeação de aprovados, estão previstas 11.382 vagas, incluindo as 3.652 da segunda edição do Concurso Nacional Unificado (CNU). Veja a distribuição completa das vagas entre os poderes da União:
- Poder Executivo: 81.421, sendo 42.892 para provimento e 38.529 para criação;
- Poder Judiciário: 6.174 vagas, sendo 4.116 para provimento e 2.058 para criação;
- Poder Legislativo: 296 vagas para provimento;
- Defensoria Pública da União: 810 vagas, sendo 210 para provimento e 600 para criação; e
- Ministério Público da União: 357 vagas para provimento.
É importante ressaltar que a inclusão de vagas no PLOA não garante automaticamente a nomeação de aprovados. Trata-se de uma previsão orçamentária, que depende de autorização formal e disponibilidade de recursos para ser executada.
O PLOA também projeta um aumento de 11,24% nas despesas com pessoal do Executivo Federal, que devem passar de R$ 315 bilhões em 2025 para R$ 350,4 bilhões em 2026. Segundo o Governo Federal, esse crescimento decorre de reajustes salariais, reestruturações de carreiras e da realização de novos concursos públicos.
De acordo com o Ministério do Planejamento e Orçamento, cerca de R$ 12,1 bilhões desse acréscimo estão relacionados a aumentos salariais já aprovados para carreiras civis. Outros R$ 4,4 bilhões referem-se a novos acordos que passarão a vigorar em 2026. Para os militares, o impacto estimado é de R$ 5,3 bilhões.
Um dos destaques do orçamento é a reserva de R$ 1,8 bilhão para concursos e contratações na área da educação, com foco na criação e fortalecimento de novos Institutos Federais. Essas contratações integram o conjunto de 11.383 provimentos previstos para o Poder Executivo, sendo parte do plano de expansão da rede pública federal de ensino.
Além disso, o projeto também destina R$ 1,5 bilhão para concursos e novas contratações de servidores em outras áreas da administração pública federal.
Qual o cenário do Serviço Público?
O retrato atual do funcionalismo público no Brasil mostra mudanças significativas nas últimas décadas. A maior parte dos servidores está hoje nos municípios, como evidencia o gráfico a seguir, que demonstra o crescimento acelerado das contratações no nível municipal a partir dos anos 1990, chegando a cerca de 61% dos vínculos em 2021. Já os vínculos federais caíram para 7,9%, enquanto os estaduais representam pouco mais de 31%.

Outro dado relevante é que a maior concentração de servidores não está na administração direta, mas sim na administração indireta, em órgãos e empresas como Banco do Brasil, Petrobras, Caixa Econômica Federal, INSS, Banco Central do Brasil, Correios, Eletrobras e Fiocruz. Atualmente, são cerca de 7,41 milhões de servidores na administração indireta contra 3,42 milhões na direta, compondo um total que varia entre 11 e 12 milhões de servidores públicos em atividade no país.
Quanto ao regime de vínculo, a maioria é estatutária: aproximadamente 7,44 milhões de servidores. Em seguida, aparecem os comissionados, com 2,22 milhões, os temporários, com 1,48 milhão, além de 483 mil trabalhadores regidos pela CLT e pouco mais de 6,6 mil em outras modalidades.
A distribuição por Poder também revela forte predominância do Executivo, que concentra a maior parte dos postos de trabalho no setor público. Isso se reflete diretamente na abertura de concursos: a maior parte dos editais é voltada para carreiras executivas, sobretudo em órgãos federais e estaduais.
Os concursos públicos têm exigido cada vez mais formação acadêmica. Dados recentes apontam que 50% dos processos seletivos são destinados a cargos de nível superior, reforçando a tendência de valorização da qualificação profissional no serviço público. Veja:

Por fim, vale destacar o perfil de gênero no serviço público. Apesar do avanço da participação feminina nas últimas décadas, a maior parte dos servidores ainda é composta por homens, que representam 50,8% do total, contra 49,2% de mulheres. Os dados são do Atlas do Estado Brasileiro.
Ingresso no Serviço Público entre 2016 e 2025
O ingresso no serviço público brasileiro apresenta forte concentração em determinadas regiões. O Sudeste é responsável por 32,6% das admissões no período, seguido pelo Centro-Oeste, com 20,1%. O Nordeste aparece em terceiro lugar, com 22,5%, enquanto o Sul concentra 15,1% e o Norte apenas 9,7%. Esses números revelam a centralização das oportunidades nos grandes centros urbanos e nas capitais políticas e administrativas do país.
Ao analisar a evolução das admissões, aposentadorias e desligamentos entre 2016 e 2025, observa-se que o número de contratações tem superado consistentemente o total de desligamentos e aposentadorias. Essa tendência garante a reposição da força de trabalho e o funcionamento da máquina pública, mesmo diante das saídas constantes.
A projeção para os próximos anos indica que aproximadamente 180 mil servidores deverão se aposentar na próxima década, evidenciando a necessidade de concursos regulares para suprir essa demanda e evitar lacunas em áreas estratégicas.


No caso dos desligamentos, a principal causa é a posse em cargo não cumulativo, responsável por 49,33% das saídas. Em seguida, aparecem as exonerações, com 37,33%, os falecimentos, com 7,33%, e as penalidades disciplinares, que representam 6%. Esses dados reforçam a dinâmica interna da carreira pública, em que parte significativa dos desligamentos ocorre por movimentação para outros cargos, dentro do próprio setor público.

Cargos vagos no Serviço Público
A escassez de servidores efetivos no governo federal representa, atualmente, um dos principais entraves ao funcionamento pleno da administração pública. O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) é o órgão mais impactado, com cerca de 23 mil cargos vagos, o que compromete diretamente a prestação de serviços essenciais à população.
Setores estratégicos, como educação e saúde, também enfrentam graves deficiências de pessoal. O Ministério da Saúde concentra 14,42% do total de cargos desocupados, enquanto o Ministério da Educação responde por 12,36% do déficit.
A imagem a seguir apresenta a distribuição percentual do déficit entre os principais órgãos federais:

Além de liderar em número de cargos vagos, a área social do serviço público federal, que abrange o INSS, o Ministério da Saúde, as universidades e os institutos federais, também é a que concentra o maior número de servidores ativos. Atualmente, são mais de 265 mil vínculos formais, o que reforça o papel estratégico dessas carreiras para o Estado.
Ou seja, ainda que apresentem os maiores déficits de pessoal, essas áreas são também as que mais contratam. Portanto, a alta vacância não sinaliza uma retração do setor, mas sim uma demanda contínua por novas contratações para garantir a manutenção de serviços públicos essenciais.

A urgência por reposição de servidores já está sendo considerada nas previsões orçamentárias. O Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) 2026 contempla a criação de novos Institutos Federais, como parte do plano de expansão da rede educacional pública.
Já o INSS solicitou ao Ministério da Gestão e da Inovação (MGI) autorização para a abertura de 8.500 vagas, sendo 7.000 para o cargo de Técnico (nível médio) e 1.500 para Analista (nível superior). O pedido foi encaminhado para inclusão no PLOA, o que pode viabilizar a realização de um novo concurso do INSS em 2026.
Para quem busca uma oportunidade no setor público, as carreiras sociais seguem como uma das apostas mais promissoras. A perspectiva é positiva, especialmente diante do volume de cargos vagos e da expectativa de novos concursos nos próximos anos. O gráfico a seguir ilustra a evolução do quantitativo de servidores lotados em ministérios da área social entre os anos de 1999 e 2018.

Como se observa, em vez de uma retração, houve aumento expressivo nas contratações, especialmente na área da Educação, que ultrapassou 300 mil servidores ativos em 2018. O setor da Saúde também manteve patamar elevado, com mais de 100 mil vínculos. Mesmo ministérios com menor volume de pessoal, como Desenvolvimento Social, Ciência e Tecnologia, e Trabalho, apresentaram estabilidade ou crescimento ao longo do período.
Tendências nos concursos para os próximos anos
O cenário dos concursos públicos passa por transformações relevantes, com tendências que devem se consolidar nos próximos anos. A realização do Concurso Nacional Unificado a cada dois anos, a implementação de concursos unificados por estado, o crescimento das contratações por tempo determinado e a ampliação de editais com vagas para cadastro reserva – especialmente no âmbito dos tribunais – revelam uma nova lógica no serviço público.
Essas estratégias buscam aumentar a eficiência das contratações, agilizar o preenchimento de cargos e adaptar o serviço público às demandas atuais, mantendo o equilíbrio fiscal e o controle orçamentário. Entenda!
Concurso Nacional Unificado como política permanente
O Governo Federal pretende transformar o Concurso Público Nacional Unificado (CPNU) em uma política pública permanente. A afirmação foi feita pela ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck.
“A gente está trabalhando com essa lógica que se torne, de fato, uma política permanente. Mas, obviamente, depende. A gente não terá em 2026. A gente fez em 2025 justamente porque 2026 é um ano eleitoral e tem muito mais restrições nessa área de concurso.”
Segundo a ministra, a ideia é que o CPNU siga um modelo semelhante ao do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com edições periódicas e regulares. Para viabilizar a continuidade do modelo, o governo articula parcerias institucionais, como com a Escola Nacional de Administração Pública (Enap), que poderá assumir papel estratégico na coordenação das próximas edições.
A proposta é que o CPNU seja realizado a cada dois anos, garantindo previsibilidade, organização e abrangência nacional.
“A gente espera que, a partir de 2027, ele volte e tenhamos novas edições. A ideia de ser bianual seria uma ideia bem razoável, de dois em dois anos. O ideal para o serviço público são concursos com menos vagas para cada área, mas obviamente somadas muitas vagas, e de forma mais perene e mais frequente, pra que a gente não tenha grandes choques de gerações.”
Concurso Unificado por estado
Inspirados no modelo do Concurso Nacional Unificado (CPNU), alguns estados brasileiros já começam a articular versões estaduais de concursos unificados, com o objetivo de ampliar a eficiência nas seleções públicas e reduzir custos operacionais.
Entre os pioneiros dessa iniciativa estão Pernambuco e Alagoas, que anunciaram estudos e propostas para centralizar concursos de diferentes órgãos da administração pública estadual em um único edital, nos moldes do CPNU, com provas simultâneas, estrutura organizacional integrada e uma gestão coordenada.
Concurso Unificado PE
O concurso Unificado Pernambuco foi anunciado pela governadora Raquel Lyra. Estão previstas 455 vagas imediatas para cargos de níveis médio e superior distribuídos em nove órgãos estaduais. Ao todo, 10 cidades terão a aplicação das provas simultâneas. No momento, o processo encontra-se na fase de contratação da banca organizadora, e o edital deve ser publicado em breve. Saiba mais, aqui!
Concurso Unificado AL
O concurso Unificado Alagoas também foi confirmado! O anúncio foi feito pelo governador Paulo Dantas, que destacou a intenção de lançar um edital abrangente, com vagas para todas as áreas do serviço público estadual. Saiba mais, aqui!
A iniciativa desses estados reforça a tendência de organização unificada dos concursos em nível estadual.
Criação de um cadastro nacional para contratações temporárias
Dentro das discussões sobre a Reforma Administrativa, que voltam à pauta da Câmara dos Deputados, uma das propostas que mais tem gerado apreensão entre servidores públicos é a criação do chamado cadastro nacional de contratos temporários. A medida visa instituir um banco de profissionais que poderá ser acessado por municípios, estados e a União em situações em que não haja condições orçamentárias ou estruturais para a realização de concursos públicos.
A proposta prevê que esses contratos temporários tenham duração de até cinco anos, com a exigência de uma quarentena de 12 meses antes que o mesmo profissional possa ser recontratado. Os trabalhadores temporários teriam direito abenefícios mínimos, como licença-maternidade e adicional de férias, desde que o contrato ultrapasse um ano.
A iniciativa, no entanto, vem sendo criticada por sindicatos e representantes do funcionalismo público, que temem a precarização das relações de trabalho no serviço público. Segundo eles, a substituição de servidores concursados – que contam com estabilidade e garantias constitucionais – por vínculos temporários, baseados na CLT, pode fragilizar a estrutura do Estado e comprometer princípios como impessoalidade, continuidade e qualidade nos serviços prestados à população.
Além disso, há receio de que a criação desse banco de temporários seja um atalho para reduzir concursos públicos e enfraquecer a carreira pública tradicional, ao instituir vínculos mais instáveis e sujeitos a pressões políticas e econômicas.
Concursos com vagas exclusivamente em cadastro reserva
Uma tendência que deve se consolidar nos próximos anos é a realização de concursos públicos com vagas exclusivamente para cadastro reserva. Esse modelo tem sido adotado por diversos órgãos como forma de manter a possibilidade de nomeação sem a obrigatoriedade imediata de contratação.
Quando um edital prevê vagas imediatas, o órgão é legalmente obrigado a nomear os aprovados dentro do número de vagas durante o prazo de validade do concurso. Já nos certames que oferecem apenas cadastro reserva, a convocação dos aprovados fica condicionada à conveniência administrativa, o que dá mais flexibilidade para os gestores públicos.
Mesmo com essa limitação formal, muitos órgãos seguem contratando normalmente a partir do cadastro reserva, conforme surjam vacâncias e disponibilidade orçamentária. Ou seja, a ausência de vagas imediatas não significa falta de chances reais de nomeação.
Esse modelo tem sido especialmente comum em concursos de tribunais, que enfrentam demandas constantes por reposição de pessoal, mas precisam lidar com limites orçamentários e exigências do Judiciário por uma gestão mais eficiente. A expectativa é que mais órgãos adotem esse formato como estratégia, inclusive em concursos federais, estaduais e municipais.
Diante desse cenário, os concursos públicos reafirmam seu papel como porta de entrada para carreiras estáveis e estratégicas no Estado brasileiro.
Para os candidatos, a mensagem é clara: a demanda por servidores continua alta, especialmente em setores sociais, e os próximos anos devem consolidar um novo modelo de seleções, mais planejado, eficiente e alinhado às transformações do serviço público.
Esta matéria contou com a contribuição do professor Renato Philippini.